sexta-feira, 17 de outubro de 2008

em busca da paixão perdida


Procuro debaixo da cama, mas só encontro monstros. Será que a paixão se escondeu no limbo junto com o amor-sépia? Odeio estar apaixonada (mentindo). Então devo estar feliz (enganando-se).

Quanto mais procuro algo ou alguém que me arrebate, mais sinto que só eu mesma já será o bastante. Pois assim tem sido. O bastante para se levar uma vida besta.


Para que tantos anos vividos? Para transformá-los em anos falsamente inesquecíveis? Hein, meu amigo Pentium D? Que estou pagando em 10X. Mas se soubesse que jamais me abandonaria, como sei agora, o pagaria à vista.


A paixão continua lá, vermelha como carmim. Atraente, viva, com a boca aberta e a língua a serpentear. Eu é que não consigo tocá-la com os meus músculos alongados em câimbras.


Nos filmes, quando o protagonista está pendurado em um abismo, o coadjuvante se debruça em terra firme, estica bem os dedos até, enfim, alcançá-lo. Alívio na platéia.


No meu caso com a dita, acontece o oposto. Quanto mais eu perfilo meu corpo em sua direção e ela chega até mesmo a me respingar com seu sangue quente e gostoso, mais distante nos tornamos. Acho que vou cair.


Essa é uma distância tão desmesurada que me força a transformá-la em um drama mexicano. Quem sabe assim as moléculas que nos rodeiam se apiedam e constroem, uma agarradinha a outra, uma escadinha até a formação de uma sinapse. Uma conexãozinha já terá valido.


Ai, paixão que não me arde, que me ausenta, que me deixa transparente, inconsistente. Sinto o vácuo embrulhar o ventre.


Vou dormir, porque assim eu vou morrendo um pouquinho a cada vez. Entre uma não-paixão e outra. Esquecendo todas as que se foram. Não lembrando as que poderiam ter sido.


O cansaço é tão grande que apelo para uma forma de expressão que nem é minha. Um texto que mais parece de outro autor. Instigada que sou por um surto de vazio mortal. Para me pendurar na vida de algum jeito. Um jeito cifrado que só eu entenda.


Porque tenho vergonha de expor humanidades que não me vendem bem.


Estou mergulhada mais do que imaginava na cultura das aparências. Não sou fodona como eu supunha. Pronto, agora todos já sabem.


Desculpe, querido leitor. Você que chegou até aqui com a sensação de estar indo em direção a um endereço errado. Veio confirmar o nome da rua e o número? A boa notícia é que você realmente está no destino errado. A má é que esse erro te trouxe ao meu avesso.


Perdão por trazê-lo até aqui por nada. Por uma paixão que nem existe.


(texto de autoria de: cristiane soares

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